quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Brasil do Brasil

Poucas situações causam a mesma comoção generalizada que a guerrilha do Rio de Janeiro tem causado desde a última semana. Seja pela crueldade de uns, a valentia de outros ou puramente pelo excesso midiático, o confronto gera em nós, brasileiros de coração e documento, os mais variados sentimentos. Nuances de revolta e patriotismo, de perplexidade e de um audacioso desejo de se fazer justiça com as próprias mãos.

Embora seja impossível esquecer-nos da violência que permeia a Cidade (Quase) Maravilhosa, brilhantemente definida por Fernanda Abreu como o “purgatório da beleza e do caos”, deveria ser imprescindível também falar do que vem ocorrendo paralelamente aos conflitos. Algo que vem desafiando os mais carniceiros veículos jornalísticos. Que supera os limites do espetáculo sangrento ao qual estamos habituados. Algo que subsiste tímido nos corações de quem verdadeiramente ama este país.

O hastear da Bandeira Nacional no alto do morro mostra mais uma vez que somos indecentemente sonhadores, no melhor dos sentidos. Mexe com nosso brio. Com nosso civismo. E nos faz compreender melhor do que ninguém o significado da expressão “apesar dos pesares”. Apesar da corrupção, apesar da violência. Apesar de tudo, somos brasileiros do Brasil com S, coisa nossa, de mais ninguém.

Quando crianças, aprendemos na escola a nos sentir briosos ao ver a Bandeira Nacional. Mas não nos ensinaram que vê-la tremulando no alto do morro em meio ao caos, mostrando a hegemonia de toda uma pátria, era tão prazeroso.

Em algumas poucas imagens na TV ou na internet, pudemos nos despir do nosso pessimismo habitual que sempre ridiculariza as coisas do país. Abrimos mão das piadinhas e encaramos a situação em silêncio, mesmo que apenas por alguns segundos. Experimentamos brevemente a nudez do patriotismo, em essência, isenta de preconceitos.

Entretanto, ver a bandeira hasteada em meio à desordem significa bem mais que isso. Alguém, dono de ideias geniais, disse um dia que “o brasileiro não desiste nunca”. O símbolo-mor da nação, exibido explicitamente para quem quiser ver, demonstra nossa fascinante capacidade de não nos deixar abater, de não ser vencidos por uma meia dúzia de problemas.

Aquela flâmula deveria se tornar um monumento. Uma homenagem a mim, a você. Ao povo deste país, que sofre, mas vence. Um povo que às vezes chora de medo e logo depois, de alívio. Uma nação que sorri, feliz, lá no alto do morro, do Corcovado e do Alemão.

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