sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mamãe careta

Como alguém recém-chegado à juventude, tenho percebido o quanto os pais têm de se retorcer e fazer malabarismos para se ajustarem à rotina nada ortodoxa dos filhos. Horários mutáveis, amigos “muito loucos” e hábitos localizados no estreito limiar que separa a ousadia da irresponsabilidade.

Meninas são aconselhadas a carregarem camisinhas nas bolsas enquanto os rapazes são orientados a pedirem socorro se estiverem bêbados demais. Os arreios dos horários de se chegar em casa foram docemente trocados pelo telefonema letárgico da mãe, no meio da night, querendo apenas saber se está tudo bem com o filho – que por sinal, acha isso ridículo.

É certo de que a criação da prole é um emaranhado de princípios e ideologias que são lentamente dosados na vivência de cada filho. Mas o que não se sabe ainda é até que ponto os valores de uma família se contrapõem aos valores da sociedade contemporânea. Pior do que isso, não se sabe mais o que é família e o que é sociedade – e quando se sabe, o que está do portão para fora é infinitamente mais atrativo.

É legal encher a cara, dar vexame e ficar famoso entre a galera da facul. É bacana transar pela primeira vez aos quatorze anos, com um carinha lá da festa da Taty. É mais fantástico ainda ter ido a um prostíbulo enquanto os pais pensavam que o filho estava na casa do Dudu.

Essas mesmas ideias se infiltram sorrateiramente em cada família, dando a falsa impressão de que tudo é uma fase. Em alguns casos, costuma ser. A mocinha de quatorze anos que transou com o cara da festa da Taty, em pouco tempo será mãe. Solteira. Aliás, o pai não é aquele rapazinho que deu vexame no churrasco da faculdade? Pois é. Morreu num acidente.

Sabe? Uma das coisas pelas quais sou grato à minha mãe é por ela sempre ter sido meio... careta. Lá em casa, ela nunca ensinou que promiscuidade é normal. Ela nunca me disse que era divertido sair na sexta e só aparecer em casa no final do domingo, cheirando a álcool e cigarros. Minha mãe nunca me ensinou a querer fazer as coisas erradas só porque o “proibido é mais gostoso”. Ela me ensinou a ser responsável e honesto – com os outros e comigo mesmo.

Graças a ela, hoje não sou dependente químico. Não sou pai de filhos acidentais. Não morri em acidentes de trânsito. Graças a minha mãe, que sempre foi meio careta, ainda acho que “bala” e “doce” são apenas guloseimas. Caso você não tenha entendido, peça ajuda ao seu filho adolescente ou jovem. Ele explicará melhor do que eu.

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