segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Médio no nome, Médio na essência

Um pedaço do sonho de muita gente acaba de ir por água abaixo. O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM – que vem sendo adotado como parte do processo seletivo de diversas universidades do Brasil, surpreendeu pela sua desorganização e pelo despreparo, tanto de idealizadores quanto dos próprios alunos.

Surgido como meio de verificação da qualidade do ensino médio, precário em boa parte do Brasil, o ENEM ganhou relevância no cenário acadêmico devido à complexidade de suas questões e a exigência de bons conhecimentos em física, química e toda a parafernália intelectual que uma vez a gente aprende e nunca mais usa.

Mesmo com a crescente valorização do exame, que inclusive já substitui o vestibular em algumas das maiores universidades do país, o que vimos nesse último final de semana foi a recorrência do caótico espetáculo da vulgarização do ensino. A balbúrdia instaurada ano passado está de novo diante do nosso nariz, esperando o agradável momento de encararmos a situação com o glorioso bom humor nacional.

No meio pré-universitário, nenhum outro assunto pauta os encontros dos milhões de jovens e adolescentes que fizeram a prova. As expectativas, os meses de preparação e os planos de ingresso em algum curso superior foram, todos, invariavelmente adiados. Estamos diante de uma indefinição momentânea, mas de resultados perenes.

Não se trata de estipular ou não culpados para o problema, nem sequer de especular quais foram as causas do incidente. Isso não compete a nós, reles cidadãos, mesmo com todo o nosso potencial reivindicatório. O que incomoda é a incerteza. Sabe-se demais a respeito do ocorrido, mas nada se sabe a respeito da tratativa. O cancelamento de dois dias de provas, na mais simplória das análises, indica uma enfadonha perda de tempo. Numa segunda avaliação, indica também o desperdício da preparação de milhares de candidatos e a irritante libertinagem dos que não fizeram o exame ou fizeram e obtiveram péssimos resultados.

Quem se empenhou em fazer, vai chorar. É previsível. Quem não foi assim tão bem, tem seus motivos para comemorar, irresponsavelmente. No fim das contas, já podemos sentir o cheiro da pizza permeando os noticiários de amanhã ou depois. A mesma pizza que sempre engolimos depois de um escândalo, à moda da casa: de cabeça pra baixo e sem sabor.

Se aquela garota, de São Paulo, não conseguiu participar da prova pela ”exemplar pontualidade” do exame, que ela também não coma dessa pizza.

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